Sempre nos olhávamos.
Cada uma numa ponta da sala. Inesperadamente, nossos olhares se cruzavam. Era
o mesmo olhar. Um carinho, um afago, um “eu sei o que você está
sentindo”. Cada troca de olhares era um abraço: “Força pra
você!”. Depois de algumas semanas, alguns cumprimentos,
conversamos. Foi nosso desabafo. Falamos de nossos bebês, de seus
problemas, de nossas técnicas de enfermagem preferidas, das neos, da
arrumação do berçario, dos procedimentos...E até comemos juntas.
(Comer, para uma mãe de U.T.I, não é uma coisa banal, como
qualquer outra pessoa faz. É abrir mão de minutos com seu filho, é
se permitir um momento de 'lazer', de abstrair um pouco). Era uma
intimidade intrisseca àquele lugar, onde nos encontravamos todos os
dias. Seu filho nasceu prematuro. Ela já sabia que passaria alguns
meses nessa rotina. Ele não tinha nome. Poderia ser Amanda, mas
também não tinha sexo. Além das cardiopatias, seus órgãos
sexuais não se desenvolveram e foi necessário fazer um exame
específico para descobrir o sexo do bebê. O resultado sairia em um
mês. Uma vez, escutei a neonatologista falar pra ela: mãe, seu bebê
não está bem, o quadro continua grave. Pediu para evitar toca-lo...
Foi muito triste pra mim receber a noticia de que o bebê “tinha
ido a óbito”. Senti muito não poder estar com ela, não poder
abraça-la... Todos já sabiamos o que ia acontecer... Mas eu queria
ter podido confortá-la de alguma forma. Ás vezes, ela me vem em
pensamento e tento retribuir emanando carinho, para que ela esteja
bem, guardando a saudade de seu anjo, fortalecendo seu amor de mãe e
seguindo em frente...
Que lindo...e triste...
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